O "Jamais novamente" é agora.
Resenha sobre a fala polêmica do Presidente da República Brasileira que comparou o ataque de Israel à Gaza com o Holocausto.
POLÍTICA
Erika Castro Ribeiro
2/22/20248 min read


Engana-se quem pensa que Lula se equivocou em sua declaração.
"O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando Hitler resolveu matar os judeus", disse Lula.
Engana-se quem pensa que Lula não sabia o que fazia.
Lula sabia muito bem o que essa fala impactaria, e construiria no coletivo uma defesa de suas palavras, por quem é seduzido e compra suas narrativas.
O que eu vou falar aqui, é sobre ter decência moral de reprovar a declaração sórdida do Presidente da República. Seja você a favor dele ou não.
Direito a Defesa
Primeiro, há uma coisa muito clara no Direito Internacional - o Direito a Defesa. "A legítima defesa quer seja individual ou coletiva só pode ocorrer na sequência de uma agressão armada". Ou seja, um país atacado tem todo o direito e dever de retaliar. Porém, há um detalhe importante nessa história: O objetivo do Hamas, conforme estabelecido em seu Estatuto, é a libertação da Palestina e a destruição de Israel. Ou seja, exterminar o Estado de Israel e tudo e todos que estiverem em seu caminho.
O que você faria, se, um grupo fundamentalista, decidisse como objetivo exterminar com a sua terra e seu povo? Abriria as portas e deixaria ou defenderia? Acredito que a segunda opção seria a escolhida, correto?
Pois bem, neste caso, Israel não só defende a sua terra, mas tem como objetivo exterminar o grupo que pretende exterminar o seu povo e sua terra. Não vou entrar aqui se a forma como eles estão fazendo é a mais correta, ou não, acredito que muitos não são capazes de falar a respeito por desconhecerem na prática, como Guerras se dão. Mas em toda e qualquer guerra, civis são mortos e isso é um fato. Doa a quem doer, é efeito colateral.
O interessante é que, a repreensão quanto a atitude do Hamas de invadir o território como em um jogo de video game, atirando em todo mundo, matando sem dó qualquer pessoa que vissem pelo caminho, inclusive animais, degolando, estuprando e sequestrando, sendo judeu ou não, aliás ainda mantendo 130 vítimas em cativeiro sob maus tratos e violências físicas, sexuais e emocionais, inclusive bebês, eu não vi tamanha proporcionalidade.
Tampouco vi, repreensão e denúncia de genocídio com tamanho afinco sobre tantos outros casos pelo mundo, desde 2003, quando Lula assumiu pela primeira vez a presidência.
Genocídio:
Toda vez que escuto alguém usar o termo genocida eu me preocupo com a capacidade cognitiva e intelectual da sociedade e me vem 1984 a mente.
Chamar o outro lá de genocida é ignorar propositalmente o conceito da palavra. Faltando-se da lógica e da cognição.
Acusar Israel de genocídio, igualmente. Aliás, é possível criticar a política de Netanyahu sem ser antissemita.
Pois bem, o termo "genocídio" foi criado pelo jurista polonês Raphael Lemkin em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial. Ele combinou as palavras grega "genos" (raça, tribo) e o latim "caedere" (matar) para descrever a destruição deliberada de um grupo étnico, racial, religioso ou nacional. Lemkin criou esse termo para definir a atrocidade cometida pelos nazistas contra os judeus e outras minorias durante o Holocausto.
Holocausto
O Holocausto foi um genocídio meticulosamente planejado e sistematicamente executado pelo regime nazista liderado por Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. Os nazistas implementaram políticas discriminatórias, promulgaram leis antissemitas e conduziram campanhas de propaganda destinadas a isolar, estigmatizar e perseguir os judeus, bem como outras minorias consideradas "indesejáveis".
A perseguição aos judeus teve início com a imposição de restrições aos seus direitos, confisco de propriedades, segregação em guetos e deportações em massa para campos de concentração. Posteriormente, os nazistas estabeleceram campos de extermínio, como Auschwitz, Treblinka e Sobibor, onde milhões de judeus foram sistematicamente assassinados em câmaras de gás.
Além dos judeus, outras minorias étnicas, como ciganos, homossexuais, pessoas com deficiência e dissidentes políticos, também foram alvo da perseguição nazista, resultando em mortes em massa durante o Holocausto.
Cerca de seis milhões de judeus, além de milhões de outras pessoas consideradas "indesejáveis" pelo regime nazista, como ciganos, pessoas com deficiência, homossexuais e dissidentes políticos, foram perseguidos e assassinados em campos de extermínio, campos de concentração e em execuções em massa.
1984.
Em 1984, um clássico da distopia de George Orwell, O lema do Partido que governa a sociedade é: "Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força". Esse lema paradoxal reflete a manipulação da linguagem e da realidade pelo regime totalitário descrito por Orwell no livro. Cada parte do lema representa uma inversão de significado, onde conceitos opostos são apresentados como equivalentes, distorcendo a percepção da realidade e controlando o pensamento dos cidadãos. Essa estratégia visa a manutenção do poder absoluto do Partido sobre a população, reforçando a ideia de que a guerra traz estabilidade (paz), a falta de liberdade traz segurança (escravidão) e a ignorância traz poder (força). O lema ilustra como a manipulação da linguagem e da realidade pode ser usada como uma ferramenta de controle e opressão em um regime totalitário.
Além disso, o Ministério da Verdade, era o responsável por toda e qualquer informação, sendo a única fonte oficial e legal da mesma. Era também responsável por reescrever e reeditar a história documentada em prol do Partido.
Consegue perceber alguma semelhança com o conceito atual de Genocídio e Democracia que uns insistem em dizer como em 1984?
O curioso é que a única fonte de Gaza oficial que temos acesso aos dados, é proporcionado pelo Hamas, um grupo fundamentalista e terrorista, travestido de partido político. : Ah mas… Não, não há ah mas…
Justificar, a fala do Lula, quanto justificar o 7 de outubro, não é só um erro de lógica, mas também é uma falha moral.
Não há, nenhum órgão isento capaz de confirmar que o Hamas fala é verdade. Mas não vou entrar nisso agora.
"Eu fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente. E qual é o tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que, na Faixa de Gaza, não tá acontecendo uma guerra, mas um genocídio. Não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças", disse Lula.
Você sabia que essa narrativa é velha, mas tão velha que remonta a Idade Média? Pois é…
O Libelo de Sangue
Essa acusação foi usada também, na Rússia Czarista e reciclada pelo Nazismo.
Mas essa narrativa começou no século XII, onde uma lenda se espalhou na Europa, que acusava judeus de assassinar crianças cristãs para usar seu sangue em práticas religiosas.
Uma das primeiras acusações registradas desse tipo ocorreu em Norwich, Inglaterra, em 1144, envolvendo o caso William. Alegava-se que os judeus teriam sequestrado, torturado e assassinado o menino para utilizar seu sangue em rituais religiosos. Essas acusações infundadas foram espalhadas e ampliadas ao longo dos séculos, resultando em perseguições e violência contra a comunidade judaica.
Esse fato, conhecido historicamente como O Libelo de Sangue, foi alimentado por preconceitos antissemitas, mitos e superstições, e foi usado como justificativa para incitar o ódio e a violência contra os judeus em várias partes da Europa. Essas acusações infundadas tiveram consequências devastadoras para a comunidade judaica ao longo da história, contribuindo para a disseminação do antissemitismo e para episódios trágicos como os pogroms e o Holocausto. E mais uma vez ela se repete. O “Jamais novamente” é agora.
Mas você sabe como se construiu no inconsciente coletivo da sociedade alemã que os judeus eram um inimigo comum?
Durante o regime nazista foi feita uma intensa campanha de propaganda e manipulação ideológica promovida pelo Partido Nazista. Através de diversos meios, como discursos, panfletos, filmes e cartazes, os nazistas difamaram e estereotiparam os judeus, incutindo ódio e desconfiança em relação a essa minoria étnica. Joseph Goebbels, líder do Ministério da Propaganda do Terceiro Reich, desempenhou um papel crucial nesse processo, utilizando técnicas de manipulação emocional e repetição de mensagens para disseminar as ideias antissemitas do regime. Essa propaganda eficaz contribuiu para justificar as atrocidades cometidas durante o Holocausto.
Antes do Holocausto estima-se que a população judaica era de aproximadamente de 16,6 milhões de judeus, dentre os quais, 6 milhões foram brutalmente mortos por um processo industrial de morte.
Atualmente a população judaica conta mundialmente com aproximadamente 16 milhões de pessoas. Mesmo quase 8 décadas após, a comunidade judaica não conseguiu alcançar o número pré Holocausto.
Já a Comunidade Palestina, durante o Holocausto contava com aproximadamente 1,9 milhão de pessoas e hoje, esse número estima-se ser de 13 milhões.
O Presidente, jamais deveria ter feito tal comparação, mas para mim, ela não foi surpresa, pois ele já vem escalando o teor de suas barbáries há muito tempo.
Quando um Chefe de Estado dá uma declaração como essa, ele incita o ódio.
E, por mais que uma legião de pessoas, inclusive sua mulher, o defenda, alegando ser uma crítica ao Governo, é impossível dissociar, tratando-se de lógica, o Governo de Israel do Povo judaico em tal declaração, uma vez que ele mexe com feridas incuráveis, e vulnerabiliza os judeus os expondo a riscos de serem vítimas de crimes de ódio. Afinal, imprime no inconsciente coletivo uma imagem de que os judeus são genocidas.
Analfabetismo Funcional
Lembrando, vivemos em um país que somente cerca de 12% da sociedade tem alfabetismo funcional proficiente. Ou seja, tem habilidades avançadas de leitura, escrita e compreensão e é capaz de ler e compreender textos complexos, expressar-se de forma clara e coerente por escrito e ter um bom domínio do idioma em geral. Essa proficiência geralmente envolve um alto grau de fluência e habilidade em lidar com textos e contextos variados. E a leitura, não se resume a textos escritos, mas também situacionais.
Já o nível de analfabetos funcionais entre os níveis de analfabetismo pleno, rudimentar e elementar, chega a 64%. Ou seja, os analfabetos são incapazes de realizar tarefas simples de leitura, mesmo que alguns consigam ler números familiares. Pessoas com alfabetismo rudimentar podem localizar informações explícitas em textos cotidianos, comparar números familiares e resolver problemas simples. Já os alfabetizados em nível elementar conseguem selecionar unidades de informação em textos médios, resolver problemas com operações básicas e interpretar gráficos ou tabelas simples em contextos cotidianos.
Já 25% compõem o nível de alfabetização em nível intermediário que é capaz de localizar informações literais em textos diversos, resolver problemas matemáticos envolvendo porcentagem e proporção, elaborar sínteses de textos narrativos, jornalísticos ou científicos, relacionar regras com casos específicos, reconhecer evidências e argumentos, e confrontar a moral da história com a própria opinião ou senso comum. Além disso, ele reconhece o efeito de sentido ou estético das escolhas lexicais, sintáticas, figuras de linguagem ou sinais de pontuação.
Em resumo, mais da metade da sociedade é incapaz de compreender plenamente o que leem, escutam e veem. Esses dados são do INAF - Instituto Nacional de Alfabetismo Funcional e são públicos.
Dito tudo isto, Lula mostra quem ele é, foi e sempre será. Seguindo aquele ímpeto desde os tempos de sindicalista, ao qual ele visava impor o Comunismo a la Brasil, e se tornar um líder mundial.
Ilude-se quem confiou em seu discurso de campanha. E, os que endossam seus planos, e suas narrativas apenas se equivalem ao seu líder. E aí cabe a cada um fazer seu juízo de valor e moral sobre o mesmo e a si.
Recomendo visitar a memória do Holocausto para que ele não se repita.
Onde encontrar?
Rio de Janeiro: Memorial às Vítimas do Holocausto. No Morro do Pasmado, em Botafogo, na Zona Sul. A entrada é gratuita. - Para agendar visita: https://www.memorialdoholocaustorio.org.br
São Paulo: Memorial do Holocausto localizado na Sinagoga do Bom Retiro. A entrada é gratuita. - Para agendar visita: https://memorialdoholocausto.org.br/